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Caneta e Papel: Estrutura - Dividir e Conquistar


 Você tem uma ideia maravilhosa para a trama, ou pensou em um personagem cativante que vai arrebatar o coração do público, senta na frente do computador e começa a escrever tudo o que sua mente criativa é capaz de conceber, uma verdadeira obra prima.
  Até você ler o produto final.

 Personagens morrem e reaparecem do nada, diálogos soltos com pessoas que nem deveriam estar na cena, a trama que tinha um objetivo claro se torna obscura e você sente que perdeu o controle de sua própria ideia.

 Como um prédio com fundações na areia sua história desaba e ensina uma grande lição: uma narrativa precisa de uma estrutura.
 
 Estrutura:
-substantivo feminino. Origem ETIM lat. structūra,ae 'estrutura, organização.
1.       organização, disposição e ordem dos elementos essenciais que compõem um corpo (concreto ou abstrato).  2.  aquilo que dá sustentação a alguma coisa; armação, arcabouço.

O livro Story de Robert Mckee ensina muito sobre os principais conceitos de estrutura em uma história e é onde baseio todo o texto.

 A arte da história é a maior força cultural no mundo e na maioria dos casos quanto melhor a storytelling mais vivas são as imagens e mais afiado são os diálogos da obra. Em muitos produtos de grande investimento as histórias defeituosas substituem conteúdo por artifícios.

 Criadores desesperados pela atenção do público executam espetáculos banais multimilionários, cheios de efeitos e carentes de sentimentos.

 O maior esforço criativo em uma obra é usado pelo autor para planejar, moldar e estruturar a história. Antes de jogar todas as ideias de forma desordenada em um papel, é necessário se questionar sobre todos os aspectos que englobam a obra. Quem são as personagens? O que querem? Como tentarão consegui-lo? Por que o querem? O que os impede? Quais são as consequências? Como funciona o mundo? Sociedade? Política? Relações interpessoais? Achar as respostas e criar mais perguntas é o trabalho de estruturação da narrativa, é o esforço do criador.
 
 Uma boa história é algo que vale a pena dizer e que o mundo precisa ouvir, é necessária uma visão livre de preconceitos sobre a humanidade e sociedade, combinando isso com um profundo conhecimento de seus personagens e mundo da narrativa.

 Além disso, muito amor.
 
 “O amor pela história – a crença de que sua visão só pode ser transmitida pela história, de que as personagens podem ser mais reais que as pessoas, que o mundo ficcional é mais profundo que o concreto. O amor pelo dramático. O amor pela verdade – a crença de que a mentira aleija o artista, de que toda verdade na vida deve ser questionada, de acordo com os motivos secretos de cada um. O amor pela humanidade – uma disposição para sentir empatia pelas almas que sofrem, ver o mundo pelos seus olhos. O amor pela sensação. O amor pelo sonhar. O amor pela linguagem – o encanto pelo som e sentido, sintaxe e semântica. O amor pela dualidade – a percepção das contradições secretas da vida. O amor pela perfeição – escrever e reescrever à procura do momento perfeito. O amor pela beleza – um sentido inato que estima a boa escrita. O amor próprio – Você deve amar escrever e suportar a solidão”

  O criador é um artista que transforma o dia a dia, pensamentos, medos e relações em histórias. A ficção tem que espelhar a vida e apresentar uma significação além do que é óbvio, mas a boa ficção tem o dever também de combater os clichês.

 Mesmo com incríveis personagens, um mundo apaixonante, dons criativos e muito amor, ainda não é o suficiente - sua meta deve ser uma história bem contada - criamos uma intriga de interesses  entre o autor e o público: Dado produto simples e bem contado contra um material profundo mal contado, a audiência sempre vai escolher o simples bem contado. 

 Suas ideias podem ser brilhantes, mas se sua storytelling é pobre elas se tornam vazias.

 O trabalho de um escritor é primeiramente dividir a vida de um personagem em eventos e depois fazer escolhas.

 Escolhemos eventos que costurados nos dão uma história, organizamos esses eventos de vida de nossos personagens em uma sequência estratégica para estimular sensações específicas.

 Um evento afeta ou é causado por pessoas, portanto define a  personalidade dos personagens; acontece em algum lugar gerando imagem, ação e diálogo; retira sua energia de um conflito, produzindo emoção nos personagens e no público.

 Os eventos precisam de  propósito você deve ter claro seu objetivo. Esses eventos serão compostos para quê? Essa pergunta já ajuda a nortear grande parte do trabalho criativo, é o mesmo que perguntar: qual sua proposta? 

 Começar pelo escopo maior é sempre uma boa escolha para qualquer projetos, se sua proposta for simples e direta é bem provável que o público se identifique, literalmente comece por uma frase ou parágrafo

 Não há nada de errado que sua proposta seja a expressão de seus sentimentos, mas lembre-se que se não tocar o público vai passar uma ideia de:  “Esse cara só quer lamber as próprias feridas”. Você pode também querer expressar suas ideologias, mas se o público não acompanhar vai soar como pura arrogância intelectual.

  Como em tudo na vida o ideal é o equilíbrio.

 Essa ideia central dará os parâmetros desde a criação dos personagens quanto seu mundo e ajudará a nunca perder de vista os pontos importantes de sua história. É o início da estrutura e uma forma útil de romper as primeiras barreiras criativas.

 A grande lição é: QUESTIONE TUDO! As perguntas sempre levarão as respostas criativas.

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