Depois de Tolkien uma tonelada de criadores começaram a
mergulhar em universos fantásticos próprios para recriar a masterpiece que é a
obra Tolkieniana, mas é terrivelmente complexo criar um mundo tão conciso e a
mera replicação dos elementos faz cair em uma infinita repetição de clichês,
pelo menos até a popularização de “Guerra dos Tronos” que deu uma roupagem
contemporânea e mais pessimista para as obras desse gênero.
O clichê do protagonista vingador, o anti-herói em um mundo
cruel é tão marretado nos enredos por aí hoje em dia que é comum pensar que o
gênero está esgotado, como agravante, os autores visam mais a mídia cinematográfica
cheia de efeitos especiais e esquecem os elementos emocionais que guiam uma boa
narrativa.
Uma das melhores experiências que uma boa ficção fantasiosa proporciona
é a imersão em um mundo completamente novo e estranho, e falando em primorosa construção de ambiente narrativo, a obra de Patrick Rothufuss -
“A crônica do matador de reis” - com dois livros lançados no Brasil até agora: “O nome do
vento” e “O temor do Sábio” - é um exemplo espetacular de como o mundo da história
é tão importante quanto a trama em si.
O enredo segue Kvothe em sua busca por vingança, mas o que à
primeira vista é mais uma história com um anti-herói vingador, essas nos entregam um vento fresco com o protagonista irremediavelmente humano, não o
perfeito matador que estamos acostumados em obras assim, mas uma criança cheia
de temores enquanto cresce e cria em torno de si mesmo uma lenda, nos revelando
uma mitologia rica e complexa de forma homeopática a cada virada de página.
A narração começa com o estalajadeiro Kote, que em seu
passado carregava o nome de Kvothe, o sem sangue: músico, arcanista e famoso
aventureiro, portador de um intelecto afiado e com tiradas lógicas que vão te
fazer sorrir, buscando por vingança, amor e no caminho acompanhamos seu enorme
crescimento pessoal.
A incrível torrente de acontecimentos narrados em primeira
pessoa pela perspectiva de Kvothe, nos amarra aos seus sentimentos conflitantes
enquanto somos apresentados a enigmáticos personagens, como Denna, interesse e
desencontro amoroso de Kvothe, uma mulher forte, deslumbrante, arisca e envolta
em mistérios.
Outro toque interessante é a forma de magia que é utilizada
naquele mundo, tudo se baseia em troca de energia, as explicações são bastante
lógicas e é ilustrado de forma magnífica, coisas como acender velas em salas
distantes ganham uma narração empolgante e épica. Além de existir uma magia
“real” ligada a uma espécie de filosofia de vida sobre nomes e
nomeação de todas as coisas.
Todo esse “lore” já torna a obra indispensável por si só. Resumindo,
é uma coleção que possuí uma leitura divertida, leve e envolvente, o mundo da
história é algo que alimenta a imaginação e alimenta mais ainda a dor de esperar ansiosos pela
conclusão da magnífica da Crônica do matador de reis.
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